segunda-feira, 15 de abril de 2013

O problema em descartar arte "não-cristã"


Tradução do artigo em Christ And Pop Culture por Nick Rynerson


“Está na mente de Cristo que os Cristãos possuindo residência do Espírito Santo podem buscar as riquezas da arte, mesmo arte que não se alinha com a nossa teologia.”
Por causa da habitação do Espírito Santo, Cristãos tem uma grande, e muitas vezes neglicenciada habilidade para apreciar as maravilhosas estéticas encontradas nesse mundo. Parece haver uma imperativa divina para encontrar beleza nas coisas criadas, e como todos os anseios humanos, essa inclinação artística encontra satisfação através da vida de Cristo. O mundo, marcado pela destruição onipresente do pecado, está ansiando por ser refeito. Esta é a raiz dos anseios por beleza, verdade, prazer e alegria que artistas tentam capturar nos seus trabalhos, e Cristo trouxe esta restauração, "fazendo paz pelo sangue de Sua cruz". Esta dinâmica dá ao Cristianismo uma única visão de arte e cultura como instrumentos que são preenchidos em Cristo.
Entretanto, medo e ignorância de arte e cultura muitas vezes nos priva de apreciar a beleza de Deus que pode ser encontrada fora da nossa subcultura. Há algo distintamente Cristão na apreciação de arte "não-Cristã". Seja um filme da Rússia soviética ateísta, um romance influenciado pelo Iluminismo, uma música escrita por não-Cristãos, Deus é revelado através da criação do homem por que a criação do homem por Deus é evidente na arte.
Arte e evangelicalismo tem tido relações tensas através dos anos. Em Dynamics of Spiritual Life, o teólogo Richard Lovelace descreve os problemas com a paisagem estética do Protestantismo Evangélico como uma reação exagerada a estética Católica:
Eu descobri que o Evangelicalismo tem suas raízes em tradições Puritanas e Pietistas, que fundiram o pietismo ascético dos primeiros pais da Igreja com a doutrina Protestante, que também reagiu fortemente contra a expressão voluptuosa da fé Cristã na liturgia simbólica, arte gráfica, música e arquitetura. Como resultado dessas forças, a corrente evangélica se afastou da vida sacramental na tradição Católica, na qual o mundo criado era não somente celebrado como com, mas reconhecido como uma constante mensagem simbólica sobre a realidade espiritual. O evangélico se moveu em uma direção maniqueísta, em direção a uma estrutura mental em que objetos de sentidos e anseios poderiam nos arrastar para longe do que seria "espiritual".
Essa tensão, trazida pela época do crescimento do pré-milenianismo do século 19 e fundamentalismo do começo do século 20, criou uma barreira entre a cultura cristã e a cultura "secular". Por causa dessa separação, Evangélicos formaram uma subcultura onde estética e beleza são valorizados muito menos do que evangelismo, conformidade e teologia.
Arte e Evangelicalismo hoje
Desde o Segundo Grande Avivamento, o cristianismo americano mudou do discipulado teológico em direção a cativação emocional, a qual o estudioso Stephen Prothero chama "anti-intelectualismo espiritual". Com isso o papel da estética da arte na vida da Igreja mudou para um papel instrucional. Para muitos evangélicos, a arte agora se tornou uma, senão a única, ferramenta primária para ensinar e discipular. Para a arte, e em particular música, ganhar popularidade entre os evangélicos de hoje, precisa ter uma mensagem aberta e ser adaptável ao culto de adoração. Pela arte ser onde muitos cristãos vão para procurar instruções religiosas, é assumido que a arte sem uma explícita e segura manifestação do pensamento cristão vai levar as pessoas se desviarem. Isso deixa uma variedade de ótimas músicas fora da conversação cristã.
Eu recentemente li sobre a banda Citizens sentando com seus pastores para trabalhar suas músicas e estarem certos de que estão teologicamente corretas. No post do blog, Zach Bolen diz que "Made Alive" era uma música sobre a lei do Antigo Testamento, mas quando seus pastores deram uma olhada, a injetaram com o evangelho. O resultado foi uma música feita por músicos espantosamente talentosos, mas que soa muito como as seguras e flácidas músicas cristãs dos anos 90.
Eu quero gostar de "Made Alive", eu quero. É cativante, e eu concordo teologicamente com tudo que a banda Citizens cantou, mas parece forçada sentimentalmente, especialmente depois das "melhorias" da equipe pastoral. Apesar de que posso entender seu desejo de servir a Deus com sua arte, parece que eles comprometeram sua visão pela conformidade. Eu vejo um sentimento muito mais verdadeiro na música não-ortodoxa de Jim White, que descreve sua geralmente estranha e sempre honesta música como "só procurando um dente de ouro no sorriso torto de Deus". A música no começo do clipe dá mais a alguém para considerar do que "Made Alive".
Na mesma linha de Citizens, eu muitas vezes me pergunto sobre a genuinidade de bandas como Hillsong United, uma das mais populares bandas entre os jovens(16-35) evangélicos. Apesar de que posso apreciar a musicalidade, suas músicas são todas otimistas, animadas, e facilmente adaptáveis ao culto de louvor. Me pergunto se é por que os membros da Hillsong realmente sentem essa alegria continuamente, ou por causa da pressão social e da indústria de se encaixar em certos moldes. Qualquer que seja o caso, essa arte faz um desserviço para o Cristianismo por representar cristãos com falta de vivacidade emocional e honestidade.
Cristãos tem a habilidade, em Cristo, de contemplar a rica beleza teológica de maneiras muito mais sutis. Grandes músicas feitas por não-cristãos podem nos dar um banquete de imagens bíblicas e desejos humanos. Considere Wilco, uma banda tão longe da subcultura cristã como uma banda pode eventualmente chegar. Uma das suas mais brilhantes faixas é “At Least That’s What You Said.” O solo de guitarra é um banquete musical de absolutamente cortar o coração - já me deixou em lágrimas mais de uma vez - que foi escrito pelo vocalista Jeff Tweedy como uma manifestação auditiva dos seu ataques de pânico. Para qualquer um que já lutou com ansiedade, é algo a se ouvir.
Para que cristãos possam apreciar a arte, é importante que eles saibam quem Cristo realmente é. Para um discípulo de Cristo, encontrar segurança suficiente na sua identidade para discernir a presença de Deus na arte e cultura "não-cristã", é um sinal de vida espiritual e vitalidade. Além disso, é um bom exercício na busca pela verdade. A arte pode afiar, confrontar e confortar a alma, mas não a menos que o final conforto de Cristo já esteja lá. Ter uma teologia robusta nos vai permitir ver a glória de Deus na "arte não-ortodoxa".
Não tenha medo da arte "não cristã"
A morte e ressurreição de Cristo não marcaram a separação do Cristianismo de todas as coisas não-cristãs, mas a restauração de todas as coisas. Cristo é o perfeito agente restaurador e nós somos Seus embaixadores. Crer em Cristo é crer que "foi do agrado do Pai que toda a plenitude nele habitasse, e que, havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra, como as que estão nos céus." (Colossenses 1:19-20).
Isso inclui arte, e mesmo a mais ofensiva, não-cristã expressão da arte pode se qualificar. Há redenção a contemplar em toda a criação de Deus, e de acordo com o historiador de arte e evangélico Dan Siedell:
Isso nos livra do fardo cultural que geralmente carregamos para amar nosso próximo apreciando sua arte, poesias, músicas e filmes. Somos livres para nos fazermos vulneráveis a isso, permitindo isso a nos tocar como arte(não como mensagem moral ou ameaças a nossa moralidade). E somos livres para mobilizar nossa fé em um amável serviço para aquela obra de arte, aquela pintura, aquele filme, aquele romance ou aquele poema, a fim de aprofundar nosso entendimento disso e desdobrar sua profundidade a outros, mesmo (e especialmente), aqueles que não partilham da nossa fé.
O Salmo 24:1 declara que "Do SENHOR é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam." e portanto nada está "fora dos limites" - especialmente para aqueles que foram completamente reconciliados com seu Criador e Seus propósitos. Siedell continua:
O cristão é audiência ideal para toda arte, para todos os artefatos estéticos da imaginação - mesmo(ou especialmente  os mais escandalosos ou ofensivos. Geralmente são as mais escandalosas e ofensivas obras que revelam a dor, sofrimento e desespero da condição humana nas maneiras mais convincentes. E é o cristão que pode receber todas as coisas - incluindo poemas e pinturas - como presentes.
Eu tenho aprofundado meu interesse em ficção esse ano, e descobri que minha alma foi fortalecida e iluminada por muitas grandes obras de arte que não são teologicamente herméticas. Em Janeiro, eu li Os Irmãos Karamazov, e a beleza estética das vidas de Zossima e Alyosha me cativaram; eu ainda penso nisso diariamente. Os personagens não eram evangélicos e eu provavelmente discordaria com suas visões sobre justificação, mas conhecer esses dois personagens lembrou-me da graça, salvação e o amor de Deus. Minha cosmovisão evangélica não vacilou  ao contrário, foi nutrida. Eu acho desanimador que tantos irmãos e irmãs evangélicos podem perder tais experiências por ter uma percepção de que a arte é teologicamente perigosa.
A arte é um misterioso, divino derramamento de beleza da alma do homem. Fazer arte é buscar nas profundezas da alma pela verdade, e contemplar arte é fazer quase a mesma coisa. Arte não precisa ser um método de doutrinação. Além disso, quando escavamos pela verdade onde ela não é óbvia, as recompensas são muito mais doces. Nas palavras de Johann Wolfgang von Goethe, arte "será compreensível a uma mente que está harmoniosamente formada e desenvolvida, uma que, de acordo com suas capacidades, procura o que é perfeito e completa em si mesma"("Sobre Verdade e Probabilidade nas Obras de Arte", 1798). E está na mente de Cristo que os Cristãos possuindo residência do Espírito Santo podem buscar as riquezas da arte, mesmo arte que não se alinha com a nossa teologia.

domingo, 13 de janeiro de 2013

Legado


http://wenatcheethehatchet.blogspot.com.br/2013/01/2012-in-retrospect-curiosity-and-mars.html
Ótimo(e longo) texto resumindo as controvérsias e escândalos na Mars Hill em 2012. Abaixo a tradução dos 2 últimos parágrafos, com alguns insights muito importantes:
Veja, isso é o que me incomoda nos blogs a favor e contra, é que não permitem ambivalência nenhuma. A vida é mais comprometida e ambivalente do que como gostamos de nos imaginar na mídia social... não é? É surpreendentemente fácil, para os assim descritos exilados, falar como se não tivessem sido coniventes com o que eles agora condenam, e é surpreendentemente fácil para os de dentro imaginar que, por mais arriscado que isso ou aquilo seja, o legado vale a pena o suficiente para sacrificar uns poucos participantes que não valem tanto assim. Este blog tem sido um exercício no questionamento de ambos os tipos de pensamento. O que os ex participantes podem não admitir facilmente é que investimos em um legado que não estamos mais certos de que valeu a pena. O que os ex participantes podem não querer, ou não ter a capacidade de compreender, é que todos nós podemos ser vítimas desse tipo de tentação para um legado brilhante e reluzente o suficiente que nos inspire a seguir junto com alguma coisa.
Afinal, apesar de todos os clichês piedosos sobre movimentos e legados, isso e aquilo, qual foi a inspiração para construir uma torre na planície do Sinar? Legado. Legado pode se apresentar como o mais piedoso dos impulsos de um cristão, mas após uma análise mais cuidadosa, pode ser o impulso não para criar uma nova Jerusalém, mas outra Babilônia. Somos tolos se nos convencermos que não podemos ser vítimas dessa tentação, mesmo que condenemos aqueles que pensamos estar construindo essa torre do legado. Alguns de nós cozinhamos mais tijolos e fizemos mais morteiros para essa torre, qualquer que ela seja, do que estamos confortáveis em admitir. 
Em meus 20 anos eu pensava que falar em legado era ótimo, mas mais tarde nos meus 30, me convenci que um legado pode ser a mais perigosa das tentações que qualquer grupo de cristãos pode ter. É pelo bem de legados que pilhas de corpos mortos estão amontoados no local de sacrifício.